segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ilha de Creta (Parte 3): Café grego, vistas de Creta, e surpresas na praia

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A Ilha de Creta (Parte 3): Mar, praia e montanhas na Grécia (com surpresas)

Caso o seu interesse seja o café grego, veja A Ilha de Creta (Parte 2): Ruas de Rethymno, o café grego, e almoço em família

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Era manhã do meu dia final em Creta, após a chegada em Chania e um breve bordejo em Rethymno. O sol levantou-se cedo, como sempre nestas terras, pra mais um dia de calor sem nuvens. Pela manhã, depois de um iogurtezinho de cabra, o café grego.

Cada país aqui desta região diz que é seu. Na Turquia é "café turco", no norte da África e no Oriente Médio é "café árabe", e assim vai. Mas o estilo deles de fazer o café, que é diferente do nosso, é o mesmo: coloca-se o pó na água já junto com o açúcar num fogareiro, e não coa. Você toma o café com o pó dentro. Ele desce sozinho pro fundo da xícara, então você nunca bebe o último dedo do café (a menos que queira comer o pó).

Daí é que vem aquela história de ler a sorte na borra do café. Você vira a xícara num pires, e a forma que o que restou do pó tomar dirá o seu futuro.  Chama-se cafeomancia. Eu e minha amiga fizemos só de esculhambação, mas tem as tias experientes nisso. (Não, eu não pedi pra a mãe dela ler, antes que ela "visse" alguma coisa).
Café grego, feito no fogareiro com o pó e o açúcar já dentro. Não coa.

Pra quem não sabe, foi dos árabes e dos turcos que os europeus pegaram o hábito de beber café (que é originalmente da Etiópia, onde os árabes ficaram conhecendo). Ainda bem que alguém em algum momento da História teve a ideia de coar, porque aqui às vezes dá pra sentir o pó na boca, o que (pra quem não está habituado) é meio estranho . E o café grego já tem um sabor ligeiramente diferente. É difícil explicar sabor, mas recomendo experimentar. O chato só é que você tem que saber já de antemão o quanto vai querer de açúcar, antes mesmo de provar, pois se colocar mais e mexer, aí mexe com pó com tudo e tem que esperar um tempo até o pó descer de novo.

Tomado o café, fiquei aguardando a minha amiga e a mãe dela pra irmos à praia. Enquanto eu esperava por ali, Seu Stéphano me chamou. Como eu disse, ele é um sujeito simples, daqueles que gosta de um futebolzinho... e que faz uma fezinha na loto de vez em quando. Me chamou pra ajudar no bolão do jornal, prevendo resultados de jogos da semana de campeonatos europeus e, pasmem, até da Série B do campeonato brasileiro. "São Caetano e Guaratinguetá, quem é que ganha?", me pergunta ele. E eu sei lá, Seu Stéphano. Chutei no São Caetano, que acabou ganhando mesmo, hehe. (Precisavam ver ele tentando pronunciar Guaratinguetá, hehe).

Era hora de sair. Íamos ao sul da ilha de Creta, onde o mar é mais bonito e mais limpo, pois quase todas as cidades ficam na costa norte. Atravessa-se a ilha de norte a sul em menos de uma hora. No caminho, muitas montanhas, colinas com oliveiras, e alguns vilarejos.
Vista com oliveiras e montanhas no interior de Creta.
Terra árida e pedregosa das montanhas no interior de Creta.
Estrada cortando as montanhas.
Ponte da época do Império Turco Otomano (Séc XVI - XIX)

E, claro, do outro lado, o mar.
Como eu disse, o céu aqui quase nunca tem nuvens, pode procurar nas fotos que você não vai achar. Aqui é azul em cima e em baixo, no céu e no mar. Não é à toa que a cor está na bandeira.
Pro pessoal acostumado com as cidades, achando que aquilo é esgoto e que se desacostumou das belezas da natureza, aquilo ali é um riacho, viu gente?

Mas, antes de descermos até a praia, passamos pelo Monastério Preveli, um dos muitos monastérios da Grécia. Os gregos em sua grande maioria são cristãos ortodoxos, ou seja, eles seguem as tradições do cristianismo do primeiro milênio, sem as alterações feitas por Roma ao longo dos últimos 1000 anos. Há muitos elementos em comum com o catolicismo romano (devoção a Maria, os santos), mas os rituais são bastante diferentes. Por exemplo, não existe a hóstia; eles comungam com um pedacinho de pão mesmo. As igrejas são menores e não têm aquela nave central com os bancos dos dois lados e um corredor no meio; em vez disso elas têm vários vãos que se conectam, parecendo capelinhas, e as pessoas acompanham os ritos em pé. As mulheres normalmente cobrem a cabeça na igreja; os sacerdotes usam barba e vestem preto, e celebram o ritual de frente pra a imagem e de costas pro povo. A celebração é do mesmo jeito que era na época de Constantino, no século IX. Enfim, é um costume todo diferente mas muito interessante.

Os monastérios cristãos ortodoxos são muitos comuns aqui. Os monges normalmente têm sua própria horta, animais, e produzem coisas tipo vinho, geléia, pão...

 "Fica calado que grego não paga", disse minha amiga conforme íamos chegando na entrada. Com minha cara de grego, ninguém me cobrou.
Monastério Preveli, no sul da Ilha de Creta.
Monastério Preveli, no sul da Ilha de Creta.
A Igreja Ortodoxa tem bandeira, aquela amarela ali. No meio há uma águia de duas cabeças. O símbolo é bastante antigo, e no Império Bizantino simbolizava a dualidade do imperador como líder tanto religioso quanto dos assuntos mundanos.
Aposentos dos monges, no Monastério Preveli.
A Fonte Mística da Vida Eterna. Hehe, brincadeira. Mas as igrejas gregas, sabendo do calor, quase sempre põem uma fontezinha de água potável à disposição. Mas dá pra ver de onde os filmes de fantasia tiraram a inspiração. 

Havia um museu e uma capelinha de ambiente meio escuro, quieto e austero, como costuma ser nas igrejas ortodoxas. Foi lindo quando então tocou o celular da mãe da minha amiga, no meio da capela, tendo como toque a apropriada música Papa americano bem no refrão (pra quem não conhece, ouça no YouTube; uma música assim bem de igreja mesmo).

E fomos finalmente à praia, uma faixa de areia não muito longa mas muito bonita entre as rochas, e com pouca gente. Colocamos as coisas no chão, e fomos apreciar.
Praia no sul de Creta.
O belo mar ao sul da Ilha de Creta.

A água é boa, só que praticamente não tem ondas, já que é um mar fechado. No Brasil a gente está acostumado com ondas porque a praia é de oceano. Também não tem muita areia fina; são mais pedras. E a água é um pouco fria, mas se supera.

Estávamos lá numa boa. Mas aí é que nos chega (espia as coisas que acontecem comigo) um grupo de seus 30 a 40 nudistas...

...da terceira idade. Um bando de turistas alemães e nórdicos, nenhum com menos de 60, e uns assim que com 80 não morriam mais. Umas tias que talvez tivessem sido até gatinhas... há uns 40 anos atrás, na época do Dancing Days. Foi aquele show de peito caído e binga de véio por toda parte. Minha amiga ficou se desculpando, dizendo que desde pequena sempre ia ali e nunca tinha acontecido isso.
Um dos nudistas pensando se cai na água.

Você olhava pro lado e via aquelas senhoras obesas, de ladinho. Affff. Com o cupim caindo pro lado. Show de horrores.

Depois dessa, só olhando MUITO pra o mar azul da Grécia e as rochas.
Beira do mar em Creta.

Terminado o Cine Trash, voltamos a Rethymno e ainda demos uma volta de noitinha, pra ouvir um pouco de bouzouki ao vivo (essa espécie de bandolim aí abaixo). Muito legal.
E cedo na manhã seguinte, ferry com destino a Santorini.
Cretenses tocando bouzouki e cantando, numa loja em Rethymno. Muito parecido com o Brasil, só a música que é diferente.

Até a próxima, Creta! Deixo vocês com um pouquinho da música popular grega (rebétika, como eles dizem) com o bouzouki. A dancinha vocês podem fazer em casa.

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